segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A mente entre a realidade e a fantasia

Muitas vezes me questiono se a realidade não é algo subjetivo, pois o que sentimos é real para nós, independente da forma como uma situação realmente aconteceu. Porém existem fatos "externos" e existe a forma como nossa mente interpreta esses fatos e lida com eles. Os fatos, as situações da vida, muitas vezes, não são uma escolha nossa e não estão em nosso controle, porém a forma como nossa mente irá interpretar e lidar com aquele fato é sim uma escolha nossa.

Parece que nós caímos em extremos por não sabermos como lidar com a realidade. Muitas vezes não suportamos a situação como ela realmente é e acabamos por fantasia-la em direção a um extremo para não lidar com o real. Outras vezes nos agarramos a qualquer outra coisa próxima similar, não para descobrir como lidar com a situação, mas sim para fugir dela ocupando nossa mente com alguma outra coisa que não seja a realidade. Muitas pessoas passam a vida interpretando a realidade e se posicionando perante as situações de uma forma totalmente fantasiada, com a mente imersa numa ilusão.

Muitas vezes nos apegamos a algo, até mesmo mais confuso ou mais difícil que a situação em questão, porém é algo que para nós no fundo é mais fácil de lidar do que a nossa realidade. Transformamos esse algo em real, damos a ele um valor e um peso de realidade o qual ele não tem e ficamos confortáveis nessa fantasia, por pior que ela possa parecer, afinal inconscientemente sabemos que lidamos melhor com ela do que com as situações reais. Estar consciente das situações exige responsabilidade. Deturpamos as situações para nos colocar numa posição diferente da que nos encontramos, quando a posição que nos encontramos não nos é agradável. 

Quando algo ameaça o nosso ego: uma situação ou uma emoção que carrega a eminência de transformação, ativamos nossos mecanismos de defesa, e como um instinto de sobrevivência, nosso ego se apega a qualquer coisa que esteja “pairando” próximo a nós e seja suficientemente poderosa para ocupar nossa mente e nossa emoção e nos desviar o foco da situação da qual queremos fugir. Gastamos toda a nossa energia nessa fantasia e nos aprisionamos em padrões comportamentais. Nos afastando cada vez mais da mudança.



A fantasia surge de um desnorteamento e da incapacidade de lidar com uma situação, a qualidade da fantasia vai variar de acordo com as tendências emocionais da pessoa. Posso pensar que sou a coitadinha, vítima de um mundo cruel ou posso pensar que sou uma vencedora que lutou a vida inteira contra todos que queriam me derrubar e venceu todos os obstáculos. Ambas as percepções não são reais. São percepções fantasiadas de uma mente que não quer lidar com as coisas como elas realmente são: mutáveis, inconstantes, sem regras pré definidas ou conceitos pré concebidos.

O grande desafio é estar presente. Se estamos presentes vemos a situação real e nos percebemos como realmente somos, assim lidamos com as situações que surgem da forma que for mais natural para nós mesmos naquele momento. Todo o resto é ilusão. Fantasia criada pelo medo de lidarmos com o fato de sermos responsáveis pelo direcionamento de nossas vidas.

Chögyam Trungpa em seu livro “Transcending Madness” faz uma analogia com dirigir numa estrada. Você deve dirigir uma estrada de acordo com as condições da estrada, há uma troca entre sua habilidade como motorista e as condições da estrada. Se você tentar mudar as condições da estrada de acordo com seus desejos, pressa ou qualquer outra coisa do tipo, você não conseguirá mudar a estrada, mas sim a estrada mudará você. Porque você acabará se envolvendo em um acidente. É loucura pensar que só porque você quer a estrada irá se modificar.

É assim que funciona a realidade. As coisas são, os eventos acontecem, e você não tem como modificar uma situação real por que você quer. Se você tentar demais acabará com a mente imersa em uma fantasia que modificará você e a forma como você vê e compreende o mundo. Você tem sim como transformar conscientemente suas atitudes e a sua forma de lidar com essa situação. Mas para isso você precisa primeiro aceitar a situação como ela é de fato e aceitar a sua responsabilidade em lidar com ela.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

Imagens Arquetípicas na Clínica


O trabalho com arquétipos na clínica é um trabalho muito rico que pode acelerar muito o processo terapêutico porque acessa diretamente o inconsciente do cliente, sem passar por seus mecanismos de defesa e resistências.

Mas o que é arquétipo?

Segundo Carl Gustav Jung os arquétipos são núcleos instintivos, isto é, herdados naturalmente, que trazem padrões de comportamento humanos. Um exemplo fácil seria o arquétipo materno. Este é um padrão de comportamento inato no inconsciente humano e ele se materializa de diversas formas durante a história da humanidade através de imagens mitológicas como de Maria, Deméter ou até mesmo a Madrasta má dos contos de fada.



Existem infinitos arquétipos no inconsciente coletivo que se manifestam em nossa vida através de mitos, contos de fadas e religiões. Todos estão presentes no inconsciente coletivo, porém um ou outro acaba “brilhando” mais forte em nosso inconsciente pessoal, e isso é uma dica de quais complexos estão fortes em nosso inconsciente.

Por exemplo, se buscarmos observar o porquê da identificação de uma criança com um conto de fada, perceberemos que as questões presentes naquele conto são semelhantes ao que a criança está vivendo, ou já viveu, como ela internalizou uma experiência e como ela se sente e se comporta diante de alguns aspectos de sua vida. O mesmo serve para adultos!



Os contos de fada também são uma ferramenta rica, porém com adultos eu gosto muito de trabalhar com os arquétipos da mitologia grega, pois eles trazem padrões de comportamentos e temas bem claros e bem comuns em nossas vidas adultas, como trabalho, maternidade, sexualidade, amadurecimento, etc.

Há diversas formas de trabalhar com arquétipos. O terapeuta pode possuir uma carta com cada imagem dos principais arquétipos da mitologia grega e solicitar que o cliente retire uma carta sem ver. Ou pode pedir que o cliente escolha uma das imagens, a que mais lhe chamar atenção.

Contamos para o cliente todo o mito daquele personagem que ele retirou, seus pontos fortes e fracos e toda a sua história, e logo depois pedimos para que o próprio cliente procure perceber o que ele gostou do mito, o que incomodou ele, quais os aspectos daquele personagem ele admira ou repudia. 

Isso nos traz rapidamente uma percepção ampla sobre a psique do cliente, sem que ele esteja “armado” pois não está conscientemente falando dele. Logo após essa etapa começamos a trazer a percepção para o cliente, pedimos que ele perceba o que daquela história tem a ver com a história dele, o que ele tem de parecido com o personagem. Através desse processo o próprio cliente rapidamente vai chegando a conclusões sobre seus padrões e sobre sua vida, muitas vezes conclusões bem profundas, que demorariam muito mais tempo para emergir em uma análise clínica tradicional.



O método pode ser aplicado de outras maneiras, a técnica consiste em utilizar a imagem arquetípica para acessar o inconsciente do cliente, ajudando à trazer para a consciência questões nebulosas de forma mais sutil e lúdica.

Caso se interessem pelo tema, não apenas para utilizar a técnica caso seja terapeuta, mas também para descobrir mais sobre si mesmo, existem dois ótimos livros sobre o assunto, que abordam a presença desses arquétipos nos homens e mulheres da atualidade:

“A Deusa Interior” Autor: Jennifer Baker Woogler e Roger J. Woogler


“Os Deuses e o Homem” Autor: Jean Shinoda Bolen

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Eros e Psique: Um esboço sobre a paixão.



Vocês conhecem o Mito de Eros e Psiquê?
Para quem não conhece, segue um resumo:

Eros era filho da deusa do amor, Afrodite, um imortal de beleza inigualável.
Já Psiquê, mortal, era uma das três filhas de um rei, todas muito belas, capaz de despertar a admiração de qualquer pessoa, tanto que muitos vinham de longe para apreciá-las. Logo, as duas irmãs de Psiquê casam-se. Apenas a jovem não casa, ainda que seja a mais bela das três, e justamente por isso era a mais temida, já que sua beleza fazia seus pretendentes terem medo. 
Consultando os oráculos, os pais da jovem entristeceram-se pelo destino da filha, já que foram aconselhados a vestirem-na com trajes de núpcias e colocarem-na num alto de um rochedo para ser desposada por um terrível monstro! Na verdade, tudo fazia parte de um plano da vingativa Afrodite, que sofria de inveja da beleza da moça.

Assim que a jovem foi deixada no alto do rochedo, um vento muito forte, Zéfiro, soprou e a levou pelos ares e ela foi colocada em um vale. Psiquê adormece exausta e quando acorda parece ter sido transportada para um cenário de sonhos, um castelo enorme de mármore e ouro e logo descobre que o castelo era de seu marido, o qual havia sido predestinada, ele era extremamente carinhoso e a fazia sentir bastante amada, mas ele havia colocado uma condição, que ela não poderia vê-lo, pois se assim o fizesse o perderia para sempre. Psiquê concorda com a condição e permanece com ele. O próprio Eros, que tinha sido encarregado de executar a vingança da mãe, se apaixonara por Psiquê, mas tem de manter isso em segredo para evitar a fúria de Afrodite.

Com o passar do tempo, ela se sentia extremamente feliz, porque seu marido era o melhor dos esposos e a fazia sentir o mais profundo amor, mas resolve fazer-lhe um pedido arriscado: o de ir visitar seus pais, mesmo com a advertência dos oráculos e o temor do esposo, ela insiste, até que ele cede.

Da mesma forma que foi transportada até o seu novo lar, Psiquê vai até a casa dos pais. O reencontro gera a felicidade dos pais e a inveja das irmãs, que enchem-na de perguntas sobre o marido, e ela acaba revelando que nunca vira seu rosto. Elas acabam convencendo-na que ela deveria vê-lo, afinal o oráculo havia dito que ela casaria com um monstro. As irmãs despertam nela a insegurança de que ele pode ser o monstro dito pelo oráculo, e ela começa a duvidar e se questionar de porque ainda não viu o rosto dele. 

Quando a noite chega e ela retorna à casa, o coração dela está totalmente tomado pela curiosidade e pela dúvida de se seu marido seria o tal monstro, então ela acende uma vela e procura ver o rosto do marido.

Ela fica totalmente extasiada e encantada pela beleza estonteante do marido oculto, Eros, que teria feito esse pedido para que a esposa se apaixonasse pelo que é e não pela sua beleza. Psiquê ficou tão deslumbrada pela visão do esposo que não percebeu que uma gota da cera da vela pinga no peito do amado e o acorda assustado. Ele, ao ver que ela tinha quebrado a promessa, a abandona.

Sozinha e infeliz, Psiquê começou a vagar pelo mundo. Passando, assim, por vários desafios e sofrimentos impostos por Afrodite como uma vingança por ela ter ferido o seu filho, a jovem luta tentando recuperar o seu amor, sua última tarefa deve ser a descida ao mais obscuro reino, o reino de Hades, do qual muitos não voltam. Ao vê-la tão triste e arrependida, Eros, que também sofria com a ausência da amada, implorou a Zeus que tivesse misericórdia deles. Com a concessão de Zeus, Eros usou uma de suas flechas, resgatando a amada do reino de Hades e transformando-a numa imortal, levando-a para o Olimpo.

A partir daí, Eros e Psiquê nunca mais separaram-se. O mito de Eros (o amor) e Psiquê (a alma) retrata a união entre o amor e a alma.




Um esboço sobre a paixão: Uma análise do mito de Eros e Psique.

E aí você se apaixona.
Aquela explosão de sentimentos que misturam desde os mais gostosos até os mais terríveis, e nos deixa um tanto tontos e meio fora da realidade. Você viaja do paraíso ao inferno em segundos, dependendo de um olhar, uma presença, um toque ou a falta deles. E seus pensamentos oscilam continuamente, também te fazendo viajar nessa montanha russa de sentimentos. Cuidado, isso vicia! Rs...

Então você pensa, você sente, você analisa, você tem medo, você fica feliz, fica triste, você, você, você, e você... Mas e o outro? Já pararam pra pensar que o apaixonar-se é sempre bem semelhante independente de pra quem (ou pelo que) nos apaixonamos? Claro que a intensidade muda, mas os sintomas são basicamente os mesmos se observarmos com cuidado.

Isso acontece porque na paixão o outro é apenas um depositário de sentimentos e idealizações. Idealizamos o outro e imaginamos que ele é tudo aquilo que precisamos e buscamos para tapar nossos buraquinhos. Estamos o tempo todo esperando que o outro se comporte da maneira que criamos em nossa mente, de acordo com nossas expectativas.

Enquanto isso, no início de uma paixão, o outro também espera muito de nós e procura corresponder o que esperamos. Esse misto de projeções e espelhamentos nos deixa totalmente cegos para realidade e distante de quem a pessoa é e de quem somos realmente. Não sabemos quem é o outro, normalmente nem queremos saber, em nossa mente permanece apenas o que idealizamos do outro. E muitas vezes esquecemos também quem somos, pois temos uma lista interna de exigências do que achamos que precisamos ser e fazer para agradar o outro. Estamos todo o tempo nos forçando e forçando o outro a corresponder a um ideal de relacionamento irreal, que criamos devido às nossas necessidades internas, muitas vezes inconscientes.

Se essa dinâmica se mantém por muito tempo nos afastamos cada vez mais de nós mesmos e do outro, até o momento em que estamos nos relacionando apenas com todos os nossos medos, traumas, inseguranças e expectativas. Seu companheiro ou companheira é apenas seu próprio monstro interno.
Muitas relações terminam assim. Um sendo o monstro do outro. Porém se conseguirmos por um breve instante iluminar o outro, como Psique fez com Eros, e finalmente ver o seu rosto pela primeira vez, temos a chance de levar o relacionamento a um novo patamar, no qual ele nunca esteve.
Psique achava que Eros era um monstro, pois ele não permitia que ela o visse, até que uma noite pega a vela enquanto ele dorme e ilumina seu rosto, e vê o quão belo ele é. Um pingo da cera cai em Eros e ele acorda, revoltado pela desobediência de psique, ele vai embora e a deixa só.

Para ver o outro é preciso muita coragem. Coragem para encarar belo do outro e perceber que o monstro era seu. Coragem para desconstruir a imagem criada e olhar para a imagem real com seu lado divino e monstruoso. E principalmente coragem para se ver. Pois aquele outro que você escolheu para estar ao seu lado representa sempre uma parte de você mesmo.

Além disso o outro não gosta de ser visto. Ninguém gosta de ser desmascarado. O outro se sente vulnerável e teme tudo aquilo que tememos. Logo esse momento é difícil. Um momento de crise. Mas crise nem sempre é algo ruim. Crise é mudança, e mudança faz parte de tudo que é vivo.
Então ele ou ela não faz mais tudo o que você quer, não lê mais seus pensamentos, não concorda com você o tempo todo; Você nem sempre quer estar toda arrumada pro outro, não sente mais tanta vontade de agradar, está mais preocupada com seu trabalho e outras questões da sua vida...Crise. Ou será que vocês dois estão começando a mostrar um pro outro quem são realmente?

Ninguém é lindo o tempo todo. Ninguém é inteligente o tempo todo. Ninguém é amável o tempo todo. É claro que estou dando exemplo extremos, nem todo casal se comporta assim.  Mas se analisarmos com cuidado, todo casal no início de uma paixão procura um ideal de como se portar e espera um ideal também do outro. Mas chega um momento que as máscaras precisam cair, até mesmo para que a relação possa se aprofundar.

Se o casal tem consciência de que está passando por uma desmitificação do outro, esse processo é bem mais tranquilo, porém a maioria das pessoas não possuem esse entendimento. Acha que o outro está mudando, que não é mais o mesmo, que algo está errado, que a magia acabou. Mal sabem que é exatamente a partir daí que a magia começa.

É muito importante nesse momento se conhecer e entrar em profundo contato consigo mesmo. É o momento do mito em que psique vai realizar as tarefas impostas por Afrodite, sozinha. Tantas vezes ela pensa em desistir, mas a cada tarefa realizada ela descobre um pouco mais sobre ela mesma, sobre o que é capaz, e ganha mais e mais confiança em si mesmo.

Você se misturou nos desejos do outro e mais ainda, na ideia que você tem do que deveria ser para o outro. Na tentativa de corresponder o que você achava que o outro queria (que muitas vezes nem é o que ele quer realmente). São tantos desejos e projeções que qualquer um se perde. Esse é o momento de se reencontrar. O momento de separar as sementes, que é a primeira tarefa que Afrodite passa a psique.

Todo esse processo de voltar pra si pode ser mais introspectivo e solitário, mas como olhar pro outro sem olhar pra si? O que mais nos mantém presos numa ilusão é o medo de quem realmente somos.
O ser humano tem uma capacidade incrível de fugir de si mesmo. Somando isso ao potencial criativo que temos, o resultado pode ser uma vida inteira de alegorias que não passam de justificativas e mentiras na frente do espelho.

Se vencermos o nosso maior medo que é o de nos encarar totalmente, de olhar para nossa luz e nossa sombra. De ver o quão maravilhosos e terríveis podemos ser e nos amar assim mesmo. Aí sim seremos capazes de amar o outro como ele realmente é.

E esse amor será tão pleno e completo, que acredito ser algo inexplicável em palavras. No filme “Avatar” os personagens que moram em Pandora e tem todo uma conexão sistêmica com a natureza, os animais e com todo o planeta; não falam “Eu te Amo” mas sim “Eu te vejo”. Para mim essa foi uma representação muito próxima do que seria o Amor.

Para finalizar gostaria de dizer que não pretendo “demonizar” a paixão, como muitos fazem. A paixão tem sua beleza, como tudo, tem um lado sublime. Porém vejo ela como uma parte importante de algo muito maior que se desenvolve muitas vezes a partir dela. Qualquer relação começa com projeções e expectativas, por isso é tão importante nos conhecermos, pois no fundo sempre começamos a nos relacionar com nós mesmos, até estarmos prontos pra compreender a existência do outro.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Presente

Com certeza você já ouviu alguém falando por aí frases como “Viva o momento.” “Ou tudo o que existe é o agora” e ainda tem a clássica piada “Fiado só amanhã!”...rs...
Talvez você não saiba que esses clichês contém uma sabedoria importante e a partir do momento que tomamos consciência dessa sabedoria, transformações acontecem em nosso ser e em nossa vida.

Estudos de Física quântica e relatividade explicam que o tempo não existe da forma como percebemos ele. A linearidade temporal é uma sensação, uma percepção humana. O tempo não é linear. O tempo é apenas mais uma dimensão, como todas as outras, que são percebidas e interpretadas pelo nosso cérebro de uma determinada maneira.

Sendo assim não existe passado ou futuro. Não existe o antes ou depois. Tudo o que existe é o momento. Porém devido a sensação de linearidade nossas mentes vivem presas em histórias passadas ou projetando histórias futuras. Todo o tempo estamos vivendo em nossas mentes, em momentos que não existem e deixando de viver a realidade, o presente. É como se todos nós vivêssemos presos em uma fantasia.



Na clínica, eu trabalho sempre buscando trazer as pessoas para o momento presente. É claro que é importante conhecermos a história de vida de uma pessoa, porém se a pessoa só repete uma situação ou um trauma incessantemente, ela nunca conseguirá transforma-lo.

O inconsciente não é regido por essa sensação de linearidade, ele é atemporal. O que significa que se lembrarmos hoje de um fato doloroso que ocorreu em nossa infância, vamos sentir a emoção daquele fato presente como se ele estivesse acontecendo agora. Por isso tantas pessoas nunca superam traumas ou lutos, e quem olha de fora muitas vezes julga: “Mas já passaram 10 anos!” Isso não importa para o inconsciente. Um complexo, uma carga afetiva que não foi elaborada, quando acessada ela vem à tona com a mesma força que veio no momento em que a situação, que gerou essa carga energética, aconteceu.

Então é importante que a pessoa acesse essa carga, essa emoção, e muitas vezes ela faz isso através da fala. Porém a partir do momento em que ela acessou, ela não precisa mais da história. A emoção está aqui, agora, no presente. E a partir daí podemos lidar com ela. O que você sente agora, nesse momento? Você gosta de sentir isso? Onde essa emoção está afetando sua vida hoje? Em que posição essa emoção te deixa, e qual o ganho que você tem com essa posição?



Mesmo que você tenha se machucado no passado você não pode voltar lá e se curar. A cura está no presente e a mudança também. Precisamos nos responsabilizar por essa cura. Não importa quem ou o que nos machucou, não é aquela pessoa que pode nos curar, muitas vezes ela nem está mais aqui, somente nós mesmos que temos o poder de nos transformar e transformar as situações em nossas vidas.

Quem sou eu hoje? Como estou agindo nesse momento? Quem eu quero ser nesse momento? Precisamos nos desapegar das historinhas que acreditamos que nos constroem como somos, nós mudamos a todo segundo e temos o potencial de nos transformar no que quisermos, independente de nossas histórias.

Ficar nos contando e recontando milhões de vezes as historinhas de nossas vidas é um apego que só serve para nos manter estagnados, presos ao passado e acreditando que precisamos agir de uma determinada forma porque os acontecimentos de nossa vida nos fizeram agir assim. A pessoa com esse discurso está abrindo mão de seu poder de transformação e criação. Essa pessoa está abrindo mão da responsabilidade consigo mesma. Se os acontecimentos, a vida, o outro, me faz ser como sou, me faz estar onde estou, então eu não posso mudar nada. Mas se eu percebo que estou numa situação no momento e sentindo uma emoção no momento porque escolho isso, então eu posso escolher qualquer outra coisa que me pareça melhor.

É compreendendo quem somos no presente que temos a chance de entender nossas vivências passadas, e não o contrário. A chave está no agora. O mais importante é manter o foco no presente e assumir a responsabilidade de que as rédeas de nossa vida e de nosso ser estão apenas em nossas próprias mãos.

Só hoje você pode transformar qualquer coisa na sua vida.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O que é o Inconsciente?



Sigmund Freud foi o primeiro a desenvolver uma teoria sobre o inconsciente, segundo ele, o inconsciente é tudo aquilo que é desconhecido pela consciência “uma instância ou um sistema constituído por conteúdos recalcados que escapam às outras instâncias”.

Carl Gustav Jung, que estudou com Freud por algum tempo, ampliou um pouco mais o conceito de inconsciente. Para Jung, Freud estava certo em afirmar que o inconsciente era constituído por tudo aquilo que escapa a nossa consciência, porém Jung observava a existência do Inconsciente Pessoal e do Inconsciente Coletivo.

O Inconsciente Pessoal surge depois do nascimento e é formado pelas experiências vividas pelo indivíduo, porém experiências que por algum motivo deixaram de ser conscientes e se tornaram inconscientes. Geralmente não possuem energia psíquica suficiente para permanecerem no campo da consciência: são conteúdos de experiências de vida que por algum motivo o individuo não sabe lidar, como por exemplo conflitos psicológicos (denominados por Jung de “complexos”) e desejos pessoais (sexuais ou não) que não são realizados.

O Inconsciente Coletivo é uma camada mais profunda do inconsciente que nasce com o indivíduo, herdado de forma psicológica e biológica como um material inato da psique humana. É formado pelos arquétipos, que são núcleos instintivos, passados de geração a geração que trazem padrões de comportamento herdados da humanidade desde seu surgimento. É como se cada ser humano já nascesse com um arquivo da humanidade e de seus ancestrais.

Tantos outros médicos, psiquiatras, psicólogos, terapeutas e estudiosos da mente humana abordam o tema, porém a maioria tem por base os estudos de Freud e Jung, que foram os pioneiros no trabalho com o inconsciente.

Nesse blog pretendo apresentar textos, reflexões e pensamentos sobre o Inconsciente, as diversas maneiras de acessá-lo e as ferramentas que existem para trabalhar com ele. Além de reflexões sobre a clínica, técnicas, arte e tudo o que diz respeito a psique humana.