quarta-feira, 27 de maio de 2015

O sofrimento é uma escolha

Muitas vezes a gente acha que precisa ficar mal e sofrer por determinada situação ou questão, como se aquilo legitimasse a importância da situação. Como se sofrer validasse o sentimento, numa tentativa de provar pra nós mesmos e pro mundo, o quanto aquele sentimento tem importância. Como se o não sofrer diminuísse a importância do sentimento. Muitas vezes não queremos desapegar do sofrimento, porque ele nos lembra a nossa mente uma situação e uma emoção a qual queremos manter na nossa vida, e assim continuamos sofrendo por apego, pra manter a presença de algo que já passou.

A dor faz parte da vida. Haverão momentos de dor e eles passam por você assim como nuvens passam em frente ao sol. Você é o sol e não as nuvens. Se você se identificar com as nuvens você vai esquecer que é um sol, se você se identificar com a dor, ela se torna sofrimento. Sofrer é uma escolha.
Sofrer é apego e identificação com a emoção. E você não é sua emoção. Você é muito mais do que isso. As emoções são as nuvens, você é o sol.

O sofrimento é uma negação, uma não aceitação, do presente. A mente tem o hábito de fugir do agora, de resistir ao agora. Isso acontece porque o agora é atemporal e a mente não consegue permanecer no controle sem que esteja inserida na ideia de tempo linear. A mente consciente só compreende e controla o tempo linear, passado e futuro. Por isso mentalmente estamos sempre negando o momento presente e apegados as emoções e vivências passadas ou idealizações e projeções do futuro. A verdade é que fazemos isso porque isso nos traz uma falsa sensação de controle, estamos identificados com a nossa mente e acreditamos que assim controlamos nossas vidas. Enquanto na verdade não controlamos nada, a sensação é ilusória, pois tudo que existe de fato é o momento presente.

Se opor ao agora é se opor a vida. É simplesmente deixar de viver.

"Existem apenas dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, então Hoje é o dia certo para amar, acreditar e principalmente viver." Dalai Lama


Logo, a mente nunca vai encontrar a solução para seu sofrimento ou para seus problemas, sejam quais forem, porque ela é em si parte intrínseca do problema. E você não é a sua mente.
Enquanto estivermos identificados com nossas mentes e emoções sempre haverá sofrimento.

Porém essa transformação não é fácil, essa mudança de paradigma é algo profundo, porque essa identificação vem do ego, é uma segurança para ele, a sensação que temos é de que tudo o que vivemos e as emoções que sentimentos constituem quem somos. Formam nossa identidade. Nossa mente e pensamentos também, sentimos que somos eles e abrir mão deles traz uma sensação de despersonalização, como se tivéssemos abrindo mão de nós mesmos. 

Porém, é exatamente o contrário. Se começarmos a observar os nossos pensamentos e emoções como um observador não identificado, como se houvesse um eu que pensa e um eu além do que pensa, começamos assim a nos aproximar do nosso Ser. Jung descreve bem esse processo, o qual denominou "Processo de Individuação" onde o ego deixa de ser o centro da psique e este passa a ser o Self, que seria, simplificando muito em palavras, algo como a nossa verdadeira natureza.

O caminho para chegar a si é interno e solitário. Depende da desconstrução de uma identidade criada pela nossa mente e da transformação da nossa maneira de lidar com as emoções. E antes de tudo, depende principalmente de estar no presente. Só no presente estamos vivos de verdade.

"Todas as coisas realmente importantes como a beleza, o amor, a criatividade, a alegria, a paz interior, surgem de um ponto além da mente. É quando começamos a acordar." 







Fonte: Livro " O Poder do Agora" , Eckhart Tolle