sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Ciclos, renovação e o mito da Fênix

Fim de ano chegando e trazendo com ele o simbolismo dos ciclos: fechamentos e recomeços sempre são importantes para nos trazer uma energia de renovação. É claro que se trata apenas de um calendário, porém já excluímos tantos rituais do nosso dia a dia que acredito na importância do fim do ano como um ritual de fechamento e recomeço, um momento para avaliar nossos objetivos, sentimentos e realizações.

Se olhamos para esse período através desse olhar simbólico, podemos observar que estamos no momento final do ciclo, momento de olhar pra si, de questionar e avaliar tudo o que passou, todas as nossas emoções, pensamentos e ações deste último período e se perguntar:
"O que eu quero levar para meu próximo ciclo? De que forma eu quero recomeçar?" 



Essa reflexão é muito importante, pois nos ajuda a pensar sobre o que realmente queremos manter e do que precisamos abrir mão. Afinal todo momento novo, todo novo ciclo, traz coisas novas e para podermos estar receptivos para o novo é necessário abrir espaço, jogando fora o que não nos serve mais. É como arrumar o armário, se ficamos muito tempo sem arrumar, apenas acumulando roupas, a bagunça se torna maior, e quando decidirmos organizar será ainda mais difícil. Por isso é importante de tempos em tempos refletirmos sobre essa renovação interna, esse renascimento.

Um mito muito antigo que existe em diversas culturas que aborda esse tema é o famoso mito da Fênix, que morre e renasce das próprias cinzas.

Carl Gustav Jung nos explicou no seu livro “Símbolos de transformação” que o ser humano e a ave Fênix têm muitas coisas em comum. Essa emblemática criatura de fogo capaz de ressurgir majestosamente das cinzas da sua própria destruição também simboliza o poder da resiliência, essa capacidade inigualável de nos transformarmos em seres mais fortes, corajosos e iluminados.

Viktor Frankl, neuropsiquiatra e fundador da logoterapia, sobreviveu à tortura nos campos de concentração. Assim como ele mesmo explicou em muitos dos seus livros, por mais traumática e negativa que seja uma experiência o que acontece a partir dela depende de cada um. Está nas nossas mãos nos levantar de novo, recobrar mais uma vez a vida a partir das nossas cinzas, como a Fênix.

"O homem que se levanta é ainda mais forte do que aquele que não caiu." 
Viktor Frankl

Essa capacidade admirável para nos renovarmos, para retomar o fôlego, a vontade e as forças a partir de nossos "cacos" é uma tarefa primeiro sofrida, ela passa por uma fase realmente obscura que muitos terão vivido na própria pele, o que a alquimia Junguiana chama de "Nigredo" e no caminho dos arcanos do Tarot seria a carta da Morte, pois é realmente uma morte simbólica. Quando passamos por um momento traumático, todos nós “morremos um pouco”, uma parte de nós morre, uma parte que não retornará.


O próximo passo exige de nós o famoso desapego, aceitar que essa parte que "morreu" não irá voltar, pois não nos servia mais, abrir mão dela e deixá-la ir para poder mergulhar inteiramente na renovação. Ao renascermos precisamos nos reconhecer e muitas vezes o novo assusta, não só a nós mesmos como aos outros. Quantas vezes em processos de mudanças ouvimos reclamações de amigos e familiares por estarmos mudando hábitos e padrões...

O que acontece é que o novo é temido, a mudança assusta e muitas vezes lembra ao outro sua própria estagnação. Este é o momento de nos mantermos confiantes em nosso processo e compreender que muitas vezes mudanças internas geram mudanças externas, a energia que está fora precisa se alinhar com a energia que está dentro, e isso pode sim acarretar afastamentos de pessoas e mudanças de ambientes. Novamente, se ficarmos apegados aos padrões antigos, não daremos oportunidade para o novo.



Finalmente renovados estamos prontos para o início de um novo ciclo e precisamos também estar conscientes que novas mudanças virão e não nos enrijecer novamente em nossa nova maneira de ser. A vida é movimento. Como a Fênix podemos morrer e renascer diversas vezes e quanto mais conscientes estivermos, mais nos aproximaremos da nossa essência a cada ciclo.